sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Salto de qualidade: 11º Enerp qualifica debate sobre a organização dos praças

11º Enerp - 25/9 - Manhã - Encerramento

Com a participação de cerca de 100 pessoas de pelo menos 10 unidades da federação, o 11º Encontro Nacional de Entidade Praças (Enerp) discutiu os temas mais importantes para os praças militares do Brasil e deu um salto de qualidade em apresentação de propostas. Realizado em Manaus e organizado pelas diretorias da Associação de Praças do Amazonas (Apeam) e da Associação Nacional de Praças (Anaspra), o encontro também foi importante para atrair os policiais e bombeiros militares da região Norte do país para os temas da Anaspra – região extensa e pouco povoada, mas que conta com experiências importantes na composição do movimento de praças.
 
O salto de qualidade da discussão se deveu principalmente no debate sobre a organização dos praças do Brasil. Enquanto alguns defendem que os policiais e bombeiros militares devem buscar a regulamentação dos direitos de sindicalização e de greve, tal como os sindicatos de servidores civis; outros acreditam que é melhor deixar como está, afinal, o sindicalismo brasileiro, majoritariamente formado por sindicatos oficialistas e sindicalistas pelegos, não serve de exemplo para a organização dos militares estaduais.
 
No entendimento do diretor da Associação de Praças de Santa Catarina (Aprasc) e da Anaspra, cabo Everson Henning, as associações de praças e seus movimentos reivindicatórios têm mais autonomia de ação do que a maioria dos sindicatos do Brasil. “É uma situação contraditória: Somos um movimento híbrido, quando atuamos como sindicato e como movimento social, na medida em que lutamos por direitos humanos, como o direito de expressão, já que os demais sindicatos já tem esse direito”, explicou Henning durante os debates.

O que todos debatedores e participantes concordam é que o movimento dos praças brasileiros, através Anaspra, deve qualificar sua auto-organização e ampliar sua participação. Para isso, foi defendido, que é preciso fortalecer a mobilização e o “lobby” das entidades estaduais em Brasília, onde praticamente todas as decisões são tomadas. Mais que isso, as entidades estaduais devem assumir a participação nos espaços consultivos e deliberativos de âmbito federal e estadual nos temas relacionados à segurança pública, direitos humanos e trabalhistas.
 
Ciclo completo e desvinculação do Exército
 
A conquista do chamado ciclo completo para a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, ou seja, atribuição dada à mesma corporação policial das atividades de repressão e manutenção da ordem pública e de polícia judiciária ou investigação criminal, continua uma bandeira defendida pela diretoria da Anaspra. No entanto, conforme frisou o presidente da associação nacional e da Aprasc, cabo Elisandro Lotin de Souza, o ciclo completo só continuará sendo apoiado pelos praças do Brasil se vier ao lado da carreira única, da desvinculação das instituições de segurança do Exército da instiuição da jornada de trabalho. “Somente a adoção de ciclo completo não resolverá os problemas da segurança”, afirmou.
 
Um dos temas mais polêmicos, a desvinculação do Exército, ganhou ares de necessidade e urgência, apesar de não haver consenso sobre o tema, em especial da delegação da Associação de Praças de Minas Gerais (Aspra-MG), uma das maiores do país. O presidente da associação, sargento Marco Bahia, acredita que é possível viver, com dignidade e respeito, dentro de militarismo quando as instituições militares estaduais, em todo o país, abolir o regulamento disciplinar e aplicar código de ética – a exemplo da experiência mineira.
 
O discurso mais enfático partiu do deputado estadual e presidente da Associação de Praças da Bahia (Aspra-BA), soldado Marco Prisco, recentemente reincluído nos quadros da PM baiana e um dos militantes mais participativos no movimento nacional de praças. Para o parlamentar, a desmilitarização é uma questão de vida ou morte dos agentes da segurança pública e da própria qualidade do serviço oferecido para a população.
 
Caminhando ao lado da desvinculação do Exército, a reforma do regulamento disciplinar como um primeiro passo, também foi fartamente debatida no Enerp. Diretor Regional Nordeste da Anaspra e da Associação dos Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte, o soldado Rodrigo Maribondo, foi dos que falaram sobre o assunto para defender a medida como ferramenta para dar dignidade aos policiais e bombeiros militares. “Como você quer que o policial trate as pessoas com respeito se ele mesmo não é tratado assim dentro dos quartéis?”, questionou.
 
Convidado especial para o encontro, o advogado e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos Rildo Marques defendeu que a categoria deve buscar a adaptação dos direitos dos policiais e bombeiros militares aos direitos sociais da Constituição Federal de 1988. Militante histórico do movimento de direitos humanos, Marques rechaçou a cisão existente entre os policiais e os militantes de direitos humanos. Em sua opinião, essa divisão é criada “artificialmente” para separar dois grupos que têm mais pontos em comum do que diferenças, e que, no final das contas, tem o mesmo objetivo: garantir os direitos de todos os cidadãos.
 
Segundo ele, as instituições de defesa dos direitos humanos também atuam por melhores condições de trabalho e pela garantida dos direitos constitucionais dos policiais e bombeiros militares. “O movimento nacional de direitos humanos não aceita que a punição disciplinar seja tratada como um castigo dentro das corporações”, exemplificou.
 
Além de lideranças das associações regionais, o Enerp contou com a participação de seis parlamentares da classe dos militares, entre deputados estaduais e vereadores, bem como teve a presença de representantes de mandatos de deputados federais.
 
Texto e Foto: Alexandre Brandão (Anaspra)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Fotos do 2º dia do XI Enerp 2015 (Tarde)

11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp) - 24/9 - Tarde

Enerp discute direito de organização, sindicalização e greve

11º Enerp - 24/9 - Tarde


A proibição de se sindicalizar e de fazer greve foi questionada pelo deputado estadual Marco Prisco (BA) como um exemplo de que a Constituição Federal de 1988 excluiu os policiais e bombeiros militares de direitos básicos. “Não poder criar sindicato e fazer greve significa dizer que não somos cidadãos, que temos uma Constituição que não serve para a gente, porque não nos abarca como cidadão e como trabalhador”, disse, durante o debate sobre “sindicalismo fardado” – na tarde de quinta-feira (24/9) – como parte da programação do 11º Encontro Nacional de Entidade de Praças (Enerp), em Manaus.

Para alcançar o direito de sindicalização e de greve, o deputado Prisco defendeu, veementemente, a desmilitarização das forças de segurança pública. Ele entende que o militarismo “não forma ninguém, adestra, é um deformador de cérebro”, por isso tem que ser abolido para se permitir a entrada do sindicalismo no âmbito dos corporações militares. “Nosso maior desafio é conscientizar nosso pessoal para fazer a luta sindical, pois ele é um cidadão”, afirmou ao também solicitar a busca da aproximação dos movimentos estudantil e sindical.

Diretor da Associação de Praças de Santa Catarina (Aprasc) e da Anaspra e autor de dissertação de mestrado sobre o sindicalismo fardado e a experiência catarinense, o cabo Everson Henning questinou sobre qual modelo de sindicalismo os praças do Brasil querem construir. Ele destacou que atualmente, desde o governo Lula, se fortaleceu o sindicalismo de Estado financiado pelo imposto sindical, e atrelado aos governos. “Buscamos direitos para nos equiparar aos outros sindicatos e trabalhadores, mas até que ponto nos vales nos igualar a outros movimentos sindicais, que distribuem benesses e enfraquecem a mobilização?”, perguntou.

Atualmente, explica Henning, as associações de praças e seus movimentos reivindicatórios têm mais autonomia de ação do que a maioria dos sindicatos do Brasil. O que é uma situação contraditória, já que aos militares não é permitida a sindicalização. “Somos um movimento híbrido, quando atuamos como sindicato e como movimento social, na medida em que lutamos por direitos humanos, como o direito de expressão, já que os demais sindicatos já tem esse direito”, explicou.

No mesmo sentido, o diretor Regional Nordeste da Anaspra e da Associação dos Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte, o soldado Rodrigo Maribondo Nascimento questionou se é interessante a sindicalização com esse tipo de modelo de sindicato em vigor. Ele também defendeu a luta pela unicidade de representação da categoria dos militares estaduais, tendo em vista que a categoria é divida, em cada Estado, em diversas entidades.

A desorganização e a pulverização das associações dos militares estaduais se deve, de acordo com o professor Cesar Augusto Bubolz Queirós, coordenador acadêmico do Curso de História (UFAM), ao resquício do último período ditatorial no Brasil. Após golpe cívico-militar, recorda o professor, houve uma intensa violação dos direitos humanos contra os próprios militares e um processo de limpeza ideológica contra o associativismo dos militares. Isso tudo se reflete atualmente na desorganização e baixa mobilização atual dos policiais e bombeiros militares. Na atualidade também, reflete o acadêmico, a ideologia dominante faz crer que existe um pensamento único entre os militares e se “esquece”, propositalmente, que existe uma farta heterogeneidade de pensamento entre os militares.

Texto e foto: Alexandre Brandão (Anaspra)

Fotos 2º dia do XI Enerp 2015 (Manhã)

11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp) -  24/9 - Manhã

Enerp debate extinção dos regulamentos disciplinares

11º Enerp em Manaus - Abertura
Mesa de abertura do 11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp).

A legislação regulamentar das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares estaduais no Brasil foi o primeiro de tema debate do 11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp), em Manaus, na noite de quarta-feira (23/9). A revisão e até a extinção dos regulamentos disciplinares foi a principal defesa dos debatedores. 

Para o advogado José Júlio Cesar Correa, as instituições militares não devem considerar o regulamento disciplinar a norma mais importante que rege as relações nos quartéis. “Em minha opinião é o Código Civil”, disse o ex-oficial da Polícia Militar do Amazonas. Ele também defendeu o uso dos estatutos das policiais militares acima dos chamados RDPM – a exemplo do que é o Código Civil para a sociedade. Correa explicou que ao colocar o regulamento disciplinar acima dos estatutos e se ater mais ao controle da hierarquia e da disciplina, se esquece de outros direitos dos militares estaduais. 

Aos participantes do Enerp, Correa apresentou uma proposta de defesa das entidades representativas de praças do país: uma estrutura mínima e padronizada das legislações militares. “Hoje a PM no Brasil é uma só, apesar de algumas pequenas diferenças em cada Estado. Esse é o primeiro passo para defender o ciclo completo de polícia”, afirmou, se referindo a outra bandeira da Anaspra. 

Diretor Regional Nordeste da Anaspra e da Associação dos Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte, o soldado Rodrigo Maribondo Nascimento também defendeu a reforma do regulamento disciplinar como primeiro passo para dar dignidade aos policiais e bombeiros militares. “Como você quer que o policial trate as pessoas com respeito se ele mesmo não é tratado assim dentro dos quartéis?”, questionou. Outra forma de melhorar as relações internas nos quartéis, disse, é a instituição do ingresso único na carreira militar, através de concurso público para soldado. “Dessa forma todo coronel vai ter sido soldado um dia.” 

Direitos e cidadania 

Adaptar os direitos dos policiais e bombeiros militares aos direitos sociais da Constituição Federal de 1988 é a principal proposta do advogado e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos Rildo Marques. Segundo ele, as instituições de defesa dos direitos humanos também atuam por melhores condições de trabalho e por mais cidadania aos policiais e bombeiros militares. “O movimento nacional de direitos humanos não aceita que a punição disciplinar seja tratada como um castigo dentro das corporações”, afirmou.

Apesar de defender a extinção dos regulamentos disciplinares, o presidente da Associação de Praças de Minas Gerais (Aspra/MG) e diretor jurídico da Anaspra, sargento Marco Antônio Bahia Silva, se posicionou contrário à desmilitarização da Polícia e do Corpo de Bombeiros. Ele considera que é possível ter cidadania e ser militar, e usou a experiência de Minas Gerais, que trocou o RDPM por um código de ética. “Minas Gerais é o exemplo de que pode ser militar e cidadão”, disse. 

Além de apresentar sua posição a respeito da legislação militar, Correa, como um dos debateres do Enerp, destacou o evento como um marco para a segurança pública no país por causa das potencialidades de mudança almejadas pelos participantes. “Estamos construindo uma política de segurança pública, com a participação de quem realmente executa a segurança”, explicou. 

Durante sua palestra o advogado Rildo Marques apresentou publicamente uma novidade. A Anaspra foi eleita e convidada para fazer parte do Conselho Nacional de Direitos Humanos ao lado de outras entidades nacionais. 

Abertura 

A abertura das atividades do 11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp), em Manaus, nessa quarta-feira (23/9), foi feita pelo presidente da Associação de Praças do Estado do Amazonas (Apeam), soldado Gerson Feitosa, e o vice-presidente da Anaspra, sargento Eliabe Marques da Silva. 

A escolha do Estado amazonense como sede do Enerp se deveu ao trabalho político e organizativo desempenhado pela diretoria da Apeam e também para aproximar a região Norte do movimento de praças do Brasil. Feitosa destacou que, apesar de a Apeam ser uma entidade de criação recente, tem conquistado a confiança e a legitimidade perante os praças amazonenses. Por outro lado, o representante da Anaspra apresentou a meta do encontro. “Nosso objetivo é conquistar melhorias aos profissionais da segurança pública para, dessa forma, melhorar a vida da população”, declarou Eliabe. 

Além do Amazonas, estão presentes no Enerp delegações dos Estados de Roraima, Rondônia, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Maranhão.

O presidente da Anaspra, cabo Elisandro Lotin de Souza, esteve ausente no primeiro dia do evento por causa das mobilizações da Associação de Praças de Santa Catarina – entidade que ele também preside. O Enerp vai até a sexta-feira (25/9).

Texto e foto: Alexandre Brandão (Anaspra)

XI ENERP AMAZONAS

XI ENERP AMAZONAS